PEREGRINO

 Peregrino

Fui de viela em viela
fiz caminhos, fiz estradas
vi almas de formas inusitadas
fechadas com uma cancela

toquei certo, toquei forte
e a cancela da alma se abriu
e de corte profundo em corte
muita lágrima pesada surgiu

fiz montes, fiz vales perdidos
desespero de abandonados
cheios de sentimentos despedaçados
que lhes tolhiam os sentidos

levei vida, levei amor, levei alegria
doei parte de mim por inteiro
fui amigo e fiel companheiro
repudiando todo o tipo de tirania

Corri muitos lugares do meu país
a todos levei perfume e doçura
em alguns deixei alguma raíz
noutros carreguei amargura

Mas fiz o que sabia com amor
semeei paz com imensa fartura
carreguei de todos a sua dor
e essa, em mim, ainda dura

Quem sabe um dia veremos
um mundo mais cristalino
e sem mágoa receberemos
o fim da ingratidão, como destino.

Miro Couto
27-08-2020

Pesados sentidos

Pesados sentidos

Vi a tua alma a chorar sangue
tentei curar tuas feridas amargas
puxando o amor que em ti carregas
e doas constantemente ao teu gangue

pensei comprar essas amarguras
mas sem meios e sem poder derruba-las
guardei em mim para outras alturas
porque pensei apazigua-las

mas não, não consigo vencer esse penar
carregado de indulgencia no meu peito
e nem doando-me como irmão sempre a tentar
desvio esse mau rio do seu penoso leito

que me ultragem com vigor e más palavras
pouco importa na enorme cruz que carrego
se o resultado fosse ver muito amor muita luz
em vez das dores te dessem paz e sossego
Miro Couto