28 outubro, 2021

Sonhos

 Sonhos


Levaste para a forja um sonho

com a tesoura o levaste ao fogo

já em brasa o maltrataste logo

deixando a forma de antanho


mais e mais uma vez triturado

e de volta a renascer do nada

ganha formas vindas de fada

até chegar ao ponto esperado


quantas voltas deu no braseiro

quantas pancadas recebeu na bigorna

quanta força dada por inteiro

até que o sonho ganhe boa forma


até ganhar boa moldagem

quantas pancadas levou

quanto esforço foi a viagem

daquele que por amor o sonhou


quantas batidas de parto

foram feridas sangrentas

para conseguir o formato

da forma que apresentas


quantas vezes deformado

para ser belo e seguro

quantas vezes foi soldado

para ser general no futuro


assim são os meus sonhos

triturados por moinhos

que depois em pedacinhos

em puzzle de novo juntamos


E de derrota em derrota

de desilusão em cada tombo

onde a fé de cada nota

dá ao sonho o seu assombro


e se sonhar nos alenta

a pensar um mundo novo

saibam que o sonho atenta

que desgasta que rebenta

do mais velho ao mais novo


Mas sem sonhos nada somos

e de vegetar não saímos

que na vida de sonhos pomos

e a felicidade construímos


28-10-2021

Miro Couto


07 outubro, 2021

Um Terror, um assassino

 Um terror, um assassino.


Só sei que matei, matei, matei

se foram trinta ou quarenta não sei

sei que me coloquei em guarda

e de arma pronta e armada


em silencio e na espera fiquei

ate que num acto de perversão

não me detive e coloquei

toda a mestria de matar em acção


Quantas voltas tive de dar

com a arma armada na mão

e sem parar de disparar

matei mais uma grande porção


quem me visse no preparo

de matar com todo o vigor

e nao fizesse bom reparo

ia chamar-me grande estupor


mas a quem atento estava

nesta matança ordeira

sabia que por fim acabava

toda esta brincadeira


e cansado já da minha mão

de tanto esforço a matar

decidi dar-me um perdão

e sentei-me a descansar


resolvi então escrever

Duas notas sobre o assunto

matei, mas não fiz sofrer

embora matasse muito


tenho pena de quem morre

pois não se deve matar

mas por mais que fosse nobre

não me quiseram escutar


Pedi-lhes, ide embora

deixai-me a mim sempre em paz

não me quero ver à nora

eu que me acho bom rapaz


mas não, não me ouviram

e continuaram a atacar

e assim só preferiram

que pudesse eu matar


estas já não me atacam mais

morreram e são defuntas

serão alimento a pardais

que ficaram todas juntas


e por mim do meu relato

que já vos pôs a pensar

eram só moscas que mato

e nem isso queria matar.


Miro Couto

07-10-2021

01 outubro, 2021

Salta para a vida

 Salta para a vida


Não tenhas medo

não é segredo

que a tua luta é minha também


sai do degredo

aponta o dedo

mudo todo o mal para o bem


sai dessa casca

do desenrasca

que sofrer muito, faz mal


junta os dedos

mais os teus medos

vence essa morte fatal


ninguem é lorpa

quem faz da sopa

o seu alimento frugal


tem alimentos

que são tormentos

a toda a causa animal


E sem rodeios

quebra teus freios

e vem ser feliz com amor


parte depressa

deixa a conversa

ninguém merece essa dor


salta harmonia

e com alegria

vem comigo a cantar


que o futuro

por mais escuro

se fará luz a brilhar.


Miro Couto

01-10-2021