23 junho, 2019

São João


São João

Pedir ou orar será um castigo
ao governo e ao São João
que dêem comida aos sem abrigo
e uma condigna habitação

as sobras do que estragam e roubam
chegavam a acomodar com humildade
os que sem nada ainda mais poupam
não conseguem paz e serenidade

e da fartura que assola
as casas mais abastadas
há alguém que se consola
com batatas estragadas

e a dor do meu semelhante
assolada no meu peito
deixa-me triste semblante
nesta sociedade que rejeito

e de prato cheio de nada
olho sempre à minha volta
e vejo outros homens à solta
em prisões de fome enganada

E de tristeza em tristeza
nesta sociedade doente
apenas fica a grandeza
do que no chão é resiliente.

Por amor a todos eles
com a alma em pedaços
oro e peço aos governantes reles
que sejam humanos, PALHAÇOS!

Miro Couto
23-06-2019

18 junho, 2019

Animalidade versus espiritualidade

A Humanidade é o intervalo entre a animalidade e a espiritualidade

Como seres evolutivos que somos, viemos ancestralmente da animalidade e caminhamos para a espiritualidade. Se quisermos perceber a distância que nos separa do ponto de partida, e o que nos falta para o ponto de chegada, basta analisar o nosso comportamento perante o que nos cerca, pessoas, coisas e animais, e como quando estamos em provação, reagimos.
Entre um estado e o outro, existe também a diferença entre a inteligência e a esperteza, pois o que ainda está preso aos laços da animalidade, tudo aproveita, mesmo calcando os outros, ou quando os outros não se apercebem, enquanto o inteligente sabe que se assim agir, um dia terá de aprender com sofrimento, os erros que comete.
A esperteza, própria da animalidade, faz com que alguns seres tentem ser melhores, mais ágeis, sem se preocuparem com o resultado das suas acções nos outros, desde que sejam vencedores, ao contrário, os inteligentes procuram obter o sucesso, sem que isso magoe ou prejudique alguém, e se possível que beneficie a maioria dos que coexistem com ele.
Quando saímos fora da nossa "ilha" e olhamos bem para ela, e a conseguimos analisar com frieza sem egos, percebemos perfeitamente o que ainda temos de percorrer para atingir a meta, e não é errado estar atrasado, o errado é persistir no atraso, e não mudar para andar em frente e ganhar a cada passo mais graduação evolutiva.
Não posso culpar um cão de morder pois está no seu instinto de defesa, assim como não posso rebaixar um ladrão porque ele ainda não sabe ser melhor, mas tenho o dever se lhes mostrar o erro, com firmeza e mostrar na prática com exemplos que não é esse o caminho.
Somos todos ainda imperfeitos, e aqueles que nos chamam a atenção para as nossas imperfeições com firmeza e por amor, são aqueles que mais se preocupam connosco, pois são aqueles que são a nossa bússola na rota que teremos forçosamente de percorrer, pois ninguém ao longo dos milénios, ficará estacionário, na animalidade, e todos caminharão para o amor universal, para a espiritualidade.
Eu tento mudar aquilo que me atrasa, e isso requer esforço, abnegação e humildade, mas, a alegria de vencer essas muralhas, chama-se felicidade.

Miro Couto
18-06-2019

13 junho, 2019

Gladiadores de Hoje

O gladiadores de hoje

Os gladiadores de hoje
não usam espadas 
nem escudos de metal
não matam escravo que foge
nem fazem aos leões largadas
nem assassinam de punhal

Não usam quadrigas e lanças
nem redes feitas de Sisal
chicotes de couro ou mangual
machados e capacetes de tranças

usam adjectivo pronome e verbo
sabedoria, integridade e inteligência
amor, simplicidade com acervo
e muita capacidade de resiliência

Os gladiadores de hoje querem paz
defendem os caídos em sargeta
esmaga canalha que se acha vedeta
e para ele condenado, tanto faz

denunciam com palavras e poemas
cantam revoltas feita indignação
transformam a dor em oração
aliviando as mais duras e cruéis penas

mostram verdade carinho e atenção
fazem ver que se pode amar o mundo
pessoas, animais, toda a criação
e dar beleza a este planeta ainda imundo

são guerreiros mentais poderosos
não vergam, nem são ociosos
nos propósitos morais elevados
caem, choram, desanimados

e de seguida, erguem-se do chão
vestem a alma, com a força da razão
e voltam a luta do amor incondicional
nesta, em outra vida, será intemporal.

O gladiador de hoje, ajuda o inimigo
a tentar combater o seu umbigo
com pureza contra a ganância egoísta
e para ele, só o amor é conquista.

Miro Couto
13-06-2019


12 junho, 2019

À Espera

À Espera

Da paz que me sugeres franca
num pavio de algodão singelo
moldada pela glicerina branca
acende a chama que eu velo

doce palpitar do miocárdio
com batida poderosa das cames
ligam velas, faróis e o rádio
à espera que tu me chames

fermenta na ansiedade esse amor
deleitado na bigorna do ferreiro
espera do projecto todo o explendor
nas vigas retiradas de um pinheiro

moldada na tupia rotativa
ágil serpentear de um tico tico
rasga a alma rendilhada e viva
com um cinzel de perfeito bico

e se a talha que de bilros se parece
num entrelaçar de fios condensados
em gravura de historia que acontece
hieroglíferos pelas almas pintados

de fio de prumo verticalmente alinhado
cuja gravidade nos é demonstrada
criamos edifícios em dó elevado
de isolamento humano forçado

tecemos finas linhas de ligação
em redes alienadas e banais
em vez de alegria e satisfação
partilhada, em linhas de produção

e do simples fusível que se queima
por não ter a amperagem certa
da sedução utópica que reina
nunca se viu tanta gente esperta

e se as quilhas alinhadas em mar alto
sem leme ao vento planaram
pela sua combustão turbinaram
uma emoção que nos faz temer o salto

burilada feição no estirador
revelada em câmara pouco escura
sem grão mostra que a dor
só se sente enquanto dura

e não há alinhamento direccional
que corrija ou calibre vibrações
nem sempre a vida com sal
regista as boas recordações

e surfando em forte apneia
dentro de um belo chafariz
percebemos que chateia
aquilo que não se diz

Miro Couto
12-06-2019