12 junho, 2019

À Espera

À Espera

Da paz que me sugeres franca
num pavio de algodão singelo
moldada pela glicerina branca
acende a chama que eu velo

doce palpitar do miocárdio
com batida poderosa das cames
ligam velas, faróis e o rádio
à espera que tu me chames

fermenta na ansiedade esse amor
deleitado na bigorna do ferreiro
espera do projecto todo o explendor
nas vigas retiradas de um pinheiro

moldada na tupia rotativa
ágil serpentear de um tico tico
rasga a alma rendilhada e viva
com um cinzel de perfeito bico

e se a talha que de bilros se parece
num entrelaçar de fios condensados
em gravura de historia que acontece
hieroglíferos pelas almas pintados

de fio de prumo verticalmente alinhado
cuja gravidade nos é demonstrada
criamos edifícios em dó elevado
de isolamento humano forçado

tecemos finas linhas de ligação
em redes alienadas e banais
em vez de alegria e satisfação
partilhada, em linhas de produção

e do simples fusível que se queima
por não ter a amperagem certa
da sedução utópica que reina
nunca se viu tanta gente esperta

e se as quilhas alinhadas em mar alto
sem leme ao vento planaram
pela sua combustão turbinaram
uma emoção que nos faz temer o salto

burilada feição no estirador
revelada em câmara pouco escura
sem grão mostra que a dor
só se sente enquanto dura

e não há alinhamento direccional
que corrija ou calibre vibrações
nem sempre a vida com sal
regista as boas recordações

e surfando em forte apneia
dentro de um belo chafariz
percebemos que chateia
aquilo que não se diz

Miro Couto
12-06-2019

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