Um dia de cada vez

 

Viver um dia de cada vez

Flutuar, onde nadar era preciso

ter asas mas não sair do chão

existir, sem viver um sorriso

viver sem conhecer emoção

dançar, entre mágoas dispersas

cantar, entre choros contidos

amar, por quem te interessas

sofrer pelos sonhos perdidos

passar, pelo mundo nostálgico

sem cor, e sem sombra alteia

vibrar com um tique nevrálgico

ao sentir a felicidade alheia

É de bom tom, de boa fé

agarrar o medo e lutar de pé

porque existir sem viver a sorrir

é estar morto e pronto a partir

mas quem resiste nesta epopeia

há-de vencer o seu destino traçado

viverá o esplendor de alma cheia

e deixará o seu futuro bem legado.

Miro Couto

30-11-2020

Venturinhas

 

A propósito do encantador de burros e seus seguidores, os venturinhas...

De tanto zurrar ou pensar falado

Estes querem parecer gente

E fica o sábio simples, calado

E todo o burro contente

Miro Couto

16-11-2020

Amizade

 

Amizade

Não há países que nos separem

não há distâncias a atrapalhar

só há lembranças a aguardar

entre os que ficam e os que partem

Nem idiomas que não se falem

nem gestos lindos de encantar

flores de amor que se mandem

se tens amigos, vamos cantar

nas tuas mãos eu ponho a alma

a tua guardo como um tesouro

ter um amigo é ter a calma

que vale muito mais que ouro

canta comigo com sintonia

o hino há amizade sincera

que perdura além do dia

e durará mais que uma era

e de alma sentida e sorriso

em laços profundos de céu

juntos do amor que se deu

teremos do mundo o que é preciso

Aos amigos de longe, que vivem noutras fronteiras

Miro Couto

14-11-2020

Cuidado

 

Cuidado

Há quem defenda a verdade
Há quem a ela se oponha
Na verdade há serenidade
Na mentira há vergonha:

Há quem minta por prazer
há quem dela se abasteça
de tanta mentira dizer
até que verdade se pareça

Há quem se julgue capaz
de enganar todo o mundo
usando a mentira sagaz
dando um ar bem profundo

Mas haverá sempre alguém
que a mentira descubra
mostrando o que ela contém
por mais que você encubra.

Miro Couto
13-11-2020

Eu mesmo

Nunca tive um cândido ar

nem carinha de doçura

nem sorriso de armadura

nem cinismo no falar

nunca olhei com outros olhos

as dores que o mundo pariu

não reparo em saias de folhos

mas sim sempre em quem caiu

não olho através da janela

a espreitar a qual fantasia

da felicidade alheia vela

toda a minha alegria

não sei dizer sim se não acho

não sei dizer não quando posso

ser firme ao lado do borracho

ao arrogante mandar ao fosso

não sei ler a tanta falsa poesia

de quem nada sente mas crê

em emoções de imensa ousadia

que só nas telenovelas se vê

 

Não sei basculhar propósitos

nem amarguras negras, sinistras

nem guardo em meus depósitos

ódios lançados por chauvinistas

 

não possuo nenhum bem

que na terra dê colosso

nenhuma posse se tem

daquilo que não é nosso

 

apenas possuo a alma clara

rasgada por laminas crueis

ferida de chicote e de vara

marcada de sangue em pinceis

 

mas quando me for embora daqui

seja para o novo ou regresso ao céu

não contarei tudo o que já vivi

porque tudo isso é só meu.

 

Miro Couto

02-11-2020