Eu
mesmo
Nunca tive um cândido ar
nem carinha de doçura
nem sorriso de armadura
nem cinismo no falar
nunca olhei com outros olhos
as dores que o mundo pariu
não reparo em saias de folhos
mas sim sempre em quem caiu
não olho através da janela
a espreitar a qual fantasia
da felicidade alheia vela
toda a minha alegria
não sei dizer sim se não acho
não sei dizer não quando posso
ser firme ao lado do borracho
ao arrogante mandar ao fosso
não sei ler a tanta falsa poesia
de quem nada sente mas crê
em emoções de imensa ousadia
que só nas telenovelas se vê
Não sei basculhar propósitos
nem amarguras negras, sinistras
nem guardo em meus depósitos
ódios lançados por chauvinistas
não possuo nenhum bem
que na terra dê colosso
nenhuma posse se tem
daquilo que não é nosso
apenas possuo a alma clara
rasgada por laminas crueis
ferida de chicote e de vara
marcada de sangue em pinceis
mas quando me for embora daqui
seja para o novo ou regresso ao céu
não contarei tudo o que já vivi
porque tudo isso é só meu.
Miro Couto
02-11-2020
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