02 novembro, 2020

Eu Mesmo

Eu mesmo

Nunca tive um cândido ar

nem carinha de doçura

nem sorriso de armadura

nem cinismo no falar

nunca olhei com outros olhos

as dores que o mundo pariu

não reparo em saias de folhos

mas sim sempre em quem caiu

não olho através da janela

a espreitar a qual fantasia

da felicidade alheia vela

toda a minha alegria

não sei dizer sim se não acho

não sei dizer não quando posso

ser firme ao lado do borracho

ao arrogante mandar ao fosso

não sei ler a tanta falsa poesia

de quem nada sente mas crê

em emoções de imensa ousadia

que só nas telenovelas se vê

 

Não sei basculhar propósitos

nem amarguras negras, sinistras

nem guardo em meus depósitos

ódios lançados por chauvinistas

 

não possuo nenhum bem

que na terra dê colosso

nenhuma posse se tem

daquilo que não é nosso

 

apenas possuo a alma clara

rasgada por laminas crueis

ferida de chicote e de vara

marcada de sangue em pinceis

 

mas quando me for embora daqui

seja para o novo ou regresso ao céu

não contarei tudo o que já vivi

porque tudo isso é só meu.

 

Miro Couto

02-11-2020


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