28 fevereiro, 2021

Ai, o amor

Ai, o amor

O amor não tem idioma
tem brilho no olhar
tem lágrimas no coração
tem alegrias infindas
suaves e simples acção
tem perfume e sorrisos
saídos em contra mão
tem afectos e carícias
dados só por prazer
tem ternuras, afagos
para quem está a sofrer
tem uma flor emprestada
num abraço sincero
tem a alma retalhada
por quem vive em desespero
tem fascínio enrugado
de tempos que já lá vão
tem poema declamado
cheio de boa intenção
e uma garrafa cheia
de tudo o que der prazer
saber que o que se semeia
um dia se irá colher
Amor é agua que corre
nas veias da humanidade
é o odor que nos move
sentindo fraternidade
é vulcão expelindo cinzas
quando se torna paixão
é a paz de um abraço
cheio de emoção
é o raiar de esperança
desta pobre humanidade
que só o amor dança
quando já tem mais idade.
Miro Couto
28-02-2021


19 fevereiro, 2021

O meu NADA

 

O Meu NADA

Nada tenho para oferecer
neste mundo que valida o ter
não tenho nada desse valor
e do dinheiro mal lhe vejo a cor

resta estar resignado no canto
onde só alguns me pedem coisas
podendo ser muito valiosas
enquanto lhes dura o pranto

quando em sofrimento pesado
fazem promessas infindas
eu eu nunca ponho de lado
pessoas que chegam feridas

rasgadas no peito e mente
cravadas de muita aflição
e eu, sem nada dou somente
amor e muita atenção

mas passada a dor e o afoito
das amargauras profundas vividas
la volto eu ao meu canto
das promessas incumpridas

sorrio e sigo em frente
continuo sem nada para dar
aquilo que precisa esta gente
não podem no mercado comprar

não se compra resiliência
compaixão ou amizade
nao se compra a paciência
nem sorrisos de felicidade

não se compra a energia
doada de pleno coração
não se compra a harmonia
da paz que sai da nossa mão

Que posso eu oferecer ao amor
se o amor hoje tem preço
ninguém quer saber do valor
que tem receber algum apreço

Já ninguém quer apreciar
o valor de um abraço
dum afago, de um beijo ao luar
sem dinheiro, nada tens para mostrar




quantos amores falsos convivem
na hipocrisia de viver para a imagem
com vidas ocas, e falsas se mantém
sem amor, e da amizade uma miragem

por isso eu nada tenho para oferecer
daquilo que o mundo consome
há aqueles que me querem ter
porque lhes sacio outra fome

não do pão de cada dia
que até me pode engordar
mas da verdade que guia
os que querem caminhar

e disso a alma está cheia
só que não se pode ver
podem sentir pelo palpitar da veia
os que sabem amar a valer.

Miro Couto

19-02-2021

17 fevereiro, 2021

TU

 

Tu

Podias ser um campo de alfazema
onde deleitado me esconderia
sorvendo de forma imensa, plena
o perfume que a tua pele emitia
 
podias ser um enorme jardim
de pétalas vermelhas ou outra cor
que nada mudaria em mim
a minha forma de ver o amor
 
podias ser rainha ou pobre
donzela, amazona ou plebeia
serias sempre para mim nobre
só não podes ter a alma feia
 
podes ser tudo e mais além
sem apego, sem marca sem ilusão
sê sempre o que o amor detêm
e nunca sairás da minha mão
 
mesmo longe, muito afastada
a conceitos errados detida
terás sempre a minha alma doada
como a terra prometida
 
Miro Couto
17-02-2021



15 fevereiro, 2021

Um dia

Um dia

Um dia, todos embarcamos numa viagem sem volta
Um dia, hoje não.

Um dia, poderemos fazer a contabilidade da nossa estadia, um crivo
onde saberemos se o que semeamos e colhemos foi produtivo
Um dia, teremos a prova daquelas coisas que intrigam
por termos dado o nosso melhor e as dúvidas do que recebemos fustigam

Um dia, talvez amanhã, percebemos que afinal não era importante
e que as coisas que adiamos, aquelas coisas que perdemos num instante
foram apenas tempo que gastamos aprendendo a vida
aprendendo que há amor, até na dor mais sofrida

Um dia, olharemos para trás e percebemos que a arrogância
que muitos teimaram em ter connosco, com frieza
foi apenas energia desperdiçada do medo e da incerteza
que a vida só vale a pena mesmo, se levada com suave fragrância

Um dia, vamos rever o filme que fizemos de longa metragem
e acabaremos a reparar que só algumas cenas marcaram
e que a bobine do tempo gasta por larga margem
foi de tolices e de preconceitos que nos enganaram

Um dia percebemos que a felicidade estava nos pormenores
nas pequenas coisas que consideramos efémeras
nos simples olhares que trocamos, e nas caricias menores
que deviam ser os pilares de todas as primaveras.

Um dia embarcamos, e com destino certeiro
onde todos acabamos, todos, ricos e sem dinheiro
e da mesma forma que viemos, sem nada
e só levamos connosco, toda a acção amada.

Miro Couto
15-02-2021