Um dia
Um dia, todos embarcamos numa viagem sem volta
Um dia, hoje não.
Um dia, poderemos fazer a contabilidade da nossa estadia, um crivo
onde saberemos se o que semeamos e colhemos foi produtivo
Um dia, teremos a prova daquelas coisas que intrigam
por termos dado o nosso melhor e as dúvidas do que recebemos fustigam
Um dia, talvez amanhã, percebemos que afinal não era importante
e que as coisas que adiamos, aquelas coisas que perdemos num instante
foram apenas tempo que gastamos aprendendo a vida
aprendendo que há amor, até na dor mais sofrida
Um dia, olharemos para trás e percebemos que a arrogância
que muitos teimaram em ter connosco, com frieza
foi apenas energia desperdiçada do medo e da incerteza
que a vida só vale a pena mesmo, se levada com suave fragrância
Um dia, vamos rever o filme que fizemos de longa metragem
e acabaremos a reparar que só algumas cenas marcaram
e que a bobine do tempo gasta por larga margem
foi de tolices e de preconceitos que nos enganaram
Um dia percebemos que a felicidade estava nos pormenores
nas pequenas coisas que consideramos efémeras
nos simples olhares que trocamos, e nas caricias menores
que deviam ser os pilares de todas as primaveras.
Um dia embarcamos, e com destino certeiro
onde todos acabamos, todos, ricos e sem dinheiro
e da mesma forma que viemos, sem nada
e só levamos connosco, toda a acção amada.
Miro Couto
15-02-2021
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