Viver adiado
Há preso em mim um animal alado
que quer voar vencendo a tirania
e quer correr para todo o lado
levando amor como uma ventania
Não é Pégaso, que voa livre
nem um Centauro arqueiro
Um urso que protege, um tigre
ou um lobo num cão rafeiro
Um leão perdido num deserto
um camelo entretido na savana
uma águia que alto voa e vê perto
quando sai do buraco a ratazana
E assim preso em mim feito enchido
sem poder dar graça ao meu poder
fico a espera do dia por mim pedido
de por cá fora essa força e muito fazer
Até lá, neste pranto, nesta apatia
mexo os dedos da esperança cruel
que me alimenta vivo dia após dia
em que o tempo se grava na pele
Miro Couto
18-08-2022