15 agosto, 2018

Esgotado

Esgotado

Primeiro soltas um suspiro e ninguém o ouve
depois, afagas os cabelos com as duas mãos e ninguem percebe
vais ruminando a amargura e o cansaço que alguém roube
e sempre pronto para te doares e toda a gente recebe


gastas a energia em simpatia, força e firmeza pétrea
alentas tudo o que se cruza e consegues ve-los
doas o teu coração e como numa chama éterea
afagas as tuas mãos numas bolas de pelos


resistes, hoje, amanhã, depois e muito tempo
ninguém vé, porque o suspiro é teu lamento
e isso não merece atenção, carinho ou cuidado
porque quem suspira, ainda não está desesperado


Resistes mais e mais dias sem esmorecer, sem cair
resistes até que alguém perceba e possa entender
o teu cansaço, a tua amargura, o teu sofrer
e só percebem, quando esgotado decides fugir


aí, aí sim, és um covarde, alguém que é queixoso
és um traste, es perdulário e pecaminoso
és fraco, convencido, canalha, vilão
és tudo o que eles quiserem, ou Não.


e quando decides optar por te manter em pé e dizes basta
todas as estruturas onde supostamente te apoias vão ruir
mas entre ficar doente, irritado, respondão à tua casta
foge, porque a única saída para sobreviveres é fugir
sem te afastares e sem deixares de dar o apoio que te resta
mas salvando a tua sanidade mental para o porvir


Antes doido, que louco. 

Beijos a quem é de beijos e abraços a quem for de abraços

Miro Couto
15-08-2018

03 agosto, 2018

Serás tu

Serás Tu

Vou andando por aí a procurar
a raiz da paixão que me refresca
a fragrância mais cheirosa que encontrar
é o cheiro da tua pele que me resta


no caminho que percorro a saltitar
e dos jardins floridos já colhi
mas nenhuma das flores tem o ar
que sempre respirei em ti


deambulo pensativo e errante
emerso num clamor de nostalgia
espreito essa frincha atentamente
mas nunca vestígios de ti via


quando à noite em sonhos me visitavas
com ofertas de amor em poesia
rasgava os sonhos que em mim sonhavas
e ficava a espera de viver esse dia


hoje já não sei em que acredito
se nos sonhos que outrora eu sonhei
se apenas alimentei um enorme mito
e só fui eu que te amei


e do amor que verti com vontade
a ferro quente marcado na minha alma
no coração guardado pela metade
pois é metade que me acalma


e nesta ou noutra vida quem sabe
voltaremos a partilhar esse aroma
ou quem sabe ainda saio do coma
e em breve outra maior janela se abre


Miro Couto
03-08-2018