25 novembro, 2003

A sociedade em que vivemos

Gostaria de dividir em três pontos esta abordagem a sociedade que temos e aos valores que se perderam, e que, por força da sociedade de consumo bruta em que vivemos, são considerados “fatelas”, tais como o amor, amizade, fraternidade, paz, etc e tal.

Antigamente, quando chamava-mos amigo a alguém, o valor que essa palavra tinha, era fundamental para demonstrar que sentíamos por uma pessoa, um carinho especial, que essa pessoa poderia contar connosco, e que nós poderíamos contar com essa pessoas, naqueles momentos em que uma palavra, um ombro, um gesto, poderia significar o alento para ultrapassar-mos uma dificuldade, Neste momento, deparamo-nos com o tipo de “amigo” que nada tem a haver com a filosofia que então existia, mas sim, ser amigo do gaijo importante, do gaijo influente, do gaijo conhecido, do gaijo que manda, do gaijo que conhece gaijas, porque ao dizer-mos que aquele gaijo é meu “amigo”, estamos, ou estão, que eu não embarco nesse comboio, a querer mostrar a importância que tem, pelos relacionamentos que tem nas influencias desta sociedade quase Salazarista em que vivemos.
A amizade neste momento, não tem valor emocional, mas sim valor patrimonial, pois raramente se vê pessoas, desinteressadas, a ajudar os amigos que precisam, mas vê-se muito, ajudar alguém com o intuito de receber muito mais, ou seja, se o gaijo esta a precisar de mim, e nada terá para me dar (material) no futuro, esse, está completamente sozinho, porque nada nem ninguém lhe vai valer, pelo contrário, se alguém precisa de um amigo, mas pode dar mais do que vai receber, nessa altura, aparecem uns quantos, que referem mil vezes que nos estão a ajudar, mas ao menor deslize, cobram-nos tudo com juros e correcção monetária, de tal forma que a dívida que contraímos, fica de tal maneira pesada, que nem sabemos, se não teria sido melhor não a receber.
Eu tenho um AMIGO, que nestes 30 anos, tem dado á essência da palavra, o seu verdadeiro sentido, pois já me ajudou quando nada tinha, foi ajudado quando eu tinha alguma coisa, e me voltou a ajudar quando fiquei na merda, provocado por uma série de situações que esta merda de políticos, e de sociedade, impele contra nós, que é nem mais nem menos, proteger os vigaristas, e maltratar as pessoas bem intencionadas.
Se repararem bem nas palavras, eu usei “bem intencionadas” e “não pessoas de bem”, porque da-se a ideia, que pessoas de bem, são uns quantos “coronéis” que escravizaram noutros e neste País algumas pessoas, fizeram fortuna, e voltaram como comendadores ou, como Boas famílias, só porque teem dinheiro.
Só para que entendam o que significa a palavra amigo, ainda no outro dia telefonei a um amigo (para mim é) que me devia dinheiro, só para lhe dizer que não me importava de perder o dinheiro que me deve, mas que me importava com a ausência dele, pois já não o vejo desde que me ficou a dever dinheiro, e porque sei que ele é sério, e só ainda não me pagou porque este País está de rastos, e ele sofre as consequências desse mesmo facto, estando em dificuldades financeiras porque também não lhe pagam a ele, logo, ele vê-se em dificuldades, de assumir os seus compromissos com os outros. A amizade, não pode ser comprada, tem necessariamente de ser dada, e sem esperar-mos retorno do que damos aos amigos.

Em segundo lugar, gostaria de referir o Amor, palavra que está demasiado gasta, sem sentido, sem qualidade, uma vez que, amor nesta sociedade porca e bruta, é dar umas kekas, foder as amigas dos amigos, e manter relações conjuntas a dois, como se de um contrato comercial se trata-se. Quando as pessoas casam, inicialmente, é porque tiveram afinidades diversas, e, porque algum tipo de sentimento tinham quando o fizeram, no entanto, mal começam os problemas materiais, contas para pagar, problemas de gestão de trabalhos etc., começa-se logo a dividir os pontos, e esquece-se o Amor, esquece-se a ternura, o carinho, dando lugar á insatisfação, á raiva, e a outros sentimentos, que nada teem a haver com o Amor, porque quando se ama verdadeiramente alguém, tudo se faz, de parte a parte, para colaborar, sentir, compreender, ajudar, apoiar sem reservas, quem se ama, ainda que, nos prejudique materialmente. Amor, neste momento não passa de uma relação entre duas pessoas, frágil, desprovida de sentimentos puros, mas com interesse de afirmação social, e pouco mais. Claro que há quem ainda ame, e que, sinta que o amor é de facto uma palavra forte, demasiado forte aliás, para ser utilizada, sem complexos, sem medos, mas por mais que se sofra, está-se sem reservas ao lado de quem se ama, sem contrapartidas, sem cobranças. Eu tenho dois grandes amores, sem reservas, sem cobranças, sem critérios, com abnegação, mas sempre presentes, que não é mais que o amor que os meus pais me teem e eu a eles, e o amor que eu tenho pela minha filha, que muito embora ela não o entenda como tal, é o que eu sinto.

Em terceiro lugar, que poderia ser qualquer lugar, pois a ordem dos factores é arbitraria, a Fraternidade, que não é mais que ajudar quem precisa, dando um pouco de nós aos outros, que muitas vezes é tão pouco, mas que é tanto para quem recebe.
Sou muitas vezes acusado de ser “BURRO”, “FATELA”, “NABO”, por ser amigo de algumas pessoas, a quem dou muito de mim, e que na maioria das vezes é mal entendido, porque a sociedade actual, não permite, e como não há ninguém que dê nada a ninguém sem esperar receber, é normal que as pessoas não entendam o que damos aos outros, sem reservas, sem cobranças, mas, a única maneira de me sentir feliz, é dar, não esperando agradecimentos daqueles a quem dou, mas, como estou habituado, quando essas pessoas a quem dou, quando já se encontram bem, reagirem mal, e dizerem coisas que magoam, mas, mesmo assim, dou. E dou porque sou egoísta, porque me faz bem, porque fico feliz, porque um dia, alguém pensará que afinal é dando aos outros que recebemos quando menos estamos a espera.

Resumindo, hoje, a sociedade, usa até meios obscuros, um pouco orientados pelo oculto, para conseguirem destruir pessoas, para tentarem ter mais que os outros, prejudicarem quem tem mais que eles, ou por outro lado, por amores não correspondidos ( aqui é onde a palavra amor é mal usada ) , porque se usassem a palavra na sua forma mais correcta, se amassem, não queriam ver a pessoa que ama, ainda que esteja com outra, a ficar mal, a andar pelo chão, mas sim, a viver feliz, porque essas pessoas, que usam esses métodos, como a inveja entre outras mais perigosas, esquecem-se que a lei do retorno existe, e quando receberem com juros o mal que fazem, será tarde para se arrependerem com o mal que fizeram.

Já agora vale a pena pensar nisto!

1 comentário:

Anónimo disse...

Conseguiu, em poucas palavras, descrever a sociedade actual, tal e qual como a conhecemos. Reparei que este post já é antigo, no entanto não consegui resistir a comentar.

Infelizmente, a sociedade tornou-se egoísta, falsa, injusta e cruel. Isto é resultado da consecutiva "evolução" da sociedade... digo "evolução" entre aspas, pois para mim é uma evolução muito negativa.

A palavra "Amor" é hoje igual a "comer", a palavra "Amigo", é hoje igual a "alguém em quem me posso pendurar para obter algo"... é lamentável, mas é a realidade da sociedade actual.

A sociedade está a evoluir de uma forma tão "drástica" que não consigo prever e também nem quero imaginar como é que será no futuro.


Segundo a minha experiência, tenho a ideia que no mundo, apenas 5% da população é que tem qualidades, e esses 5% são pessoas que ainda e felizmente não se deixaram influenciar pelos novos costumes/atitudes.

Como a maior parte da sociedade actual defende estes novos costumes/atitudes, duvido que algo mude. Penso que permanecerá estes pensamentos egoístas e traidores na sociedade infelizmente...