15 dezembro, 2024

Elegia

 Elegia

Tu, que te achas importante
despe esse ego e põe-te nu
é nesse mesmo instante
que percebes quem és tu
Carne que células agregam
para te dar forma humana
ás vezes, partidas pregam
e a vaidade te engana
És pó, és experiência viva
és um corpo em movimento
e o que achas que cativa
para outros é um lamento
Não penses que és maior
que és o centro do universo
ou aprendes a ser melhor
ou não passas de um verso
Miro Couto
15-12-2024

25 novembro, 2024

Mais um ano

 Mais um ano

Não sei quem aqui me deixou
nem a origem de onde vim
não me recordo quem sou
nem do que carrego em mim
sem vestígios do passado
nem conhecimento presente
sei apenas o propósito, o fado
que aprendo com esta gente
serei de Sírius, de Capela
ou de outro lado, sei lá
sei que aqui sou a tela
do que prometi por cá
e de ano após ano
com as marcas da dor
aprendemos no engano
a ser espírito melhor
e nos anos que somamos
tiramos um curso moral
das lições que já versamos
faremos teste Final
25-11-2024

21 agosto, 2024

 Onde me espero


É no recato da minha solidão
que voo ao mais alto dos céus
pensando a quem dei eu a mão
libertando almas dos seus véus

sem algemas de tabus e explicações
sorrio como um louco apaixonado
desprendido de boas e más paixões
sou pelos meus anjos amparado

e cada voo é uma lição nesse lugar
onde se aprende a vida em realidade
sabemos que nunca mais irá parar
pois é esse voo, o voo da eternidade

Miro Couto
21-08-2024



05 agosto, 2024

Queres ser poeta?

 Queres ser poeta?

Queres ser poeta?
Fala de Vladivostoque
De Ormuz ou do aço de damasco
Fala das rendas de bilros
Das borboletas monarca
ou do linho de canabis
da obra de Gaudi
dos quadros de Monet
ou do azul de Van Gogh
das violetas da Parra
ou dos tomates de Quilapayun
com a erva dos caminhos de Jara
Não fales de sentimentos
de amor, compaixão
do ondular das ondas
que mexem o coração
Não fales de coisas banais
que os senhores feudais
que dominam a cultura
acham menores quem os cura
Miro Couto
05-08-2024

Amiga

 Amiga

Bom dia, como vai sua vida
quero deixar aqui de voz sentida
a força de viver que espero dar
amiga, não é apenas um flor perdida
é um jardim que nasce em cada despedida
é a mais bela forma de amar
enfeita teu coração com alegria
no meio da amargura que é viver
tudo em que te doas é magia
a forma mais linda de prazer
fragância completa indestrutiva
maresia de frescura no coração
raio de sol que me cativa
e me faz prender em oração
Miro Couto
05-08-2024

29 julho, 2024

Calendário

 Calendário

Não! o meu tempo não passou
trago a essência da vida eterna
e tudo o que a vida me ensinou
fez de mim uma pessoa mais terna
não sou um calendário de parede
que conta os dias a pensar no fim
sou alguém que resiste e mede
o que vida programou para mim
não sou uma meta de sucesso
nesta lista de prioridades fúteis
sou aprendizagem, sou processo
que não se mede por coisas inúteis
tenho todo o tempo que preciso
para poder findar este curso
onde o amor é o percurso
e a meta é entender isso
quando partir finalmente
tudo o que vivi aproveitei
fui mágoa e fui diferente
fui amor a quem me dei
fui alerta, companheiro
lutei contra a escuridão
vale mais que dinheiro
a luz que vos deixei na mão
Miro couto
29-07-2024

15 julho, 2024

O meu jardim

 O meu jardim

Ao longo da vida
fui plantando as flores
da forma mais sortida
assim como os amores
nunca afastei crisálidas
nem permiti parasitas
vi abelhas nas dálias
essa é uma das conquistas
de todo o amor que lhes dei
crisálidas dera lindas borboletas
de outras com pena fiquei
morreram nas violetas
e essas que hoje luzem
voando com alegria
olvidam as dores que trazem
e vivem em plena harmonia
outras, as que se perderam
na fase da metamorfose
sucumbiram e não entenderam
que a dor é só uma fase
Miro Couto
15-07-2024

21 maio, 2024

Pensa por ti

 Pensa por ti


E neste mundo pesado

cheio de fome e de fado

sem esperança de vida


pões o destino nas mãos

de crápulas que se dizem cristãos

mas que são escória vendida


agarra com força no peito

o amor de que foste feito

e defende teu irmão


vais ver o retorno perfeito

que tão bom ficas sem jeito

e não tens de dar sermão


abraça a vida com força

e que ninguém faça troça

da felicidade que carregas


já basta tanto sofrimento

do egoísmo e tormento

dos senhores que fazem guerras


e de mãos dadas aos outros

porque todos juntos somos poucos

para vencer esta ignomia


cantemos de vozes altivas

e assim mais tu cativas

a vinda de um melhor dia


Miro Couto 

21-05-2024


03 maio, 2024

Não são palavras

 Não são palavras

Sentimentos debelados
indefinidos pelas palavras
deveriam ser cantados
em estrofes bem lavradas
mas os poetas que fingem
e dão luz à dor cativa
escrevem poemas que tingem
mudam o negro em cor viva
são palavras fotogénicas
imprimem as emoções
criam ilusões cénicas
amansam os corações
emergem do ventre rasgado
do cérebro que as faz parir
saem sempre lado a lado
seja a chorar ou a rir
Miro Couto
03-05-2024
PS: A última estrofe resultou de uma resposta a um poema da Carla Sofia

Cravo vermelho

 Cravo vermelho


Não era só um cravo

na ponta da espingarda

eram os sonhos de novo

por tanta gente almejada


Era o vermelho refletido

dos que caíram no chão

cobertos do sangue perdido

de quem possuía a razão


era o chicote domado

que torturava a nação

o jornal amordaçado

de quem tinha opinião


Eram o sonhos utópicos

duma sociedade mais nobre

era carregar os tópicos

de poder dar voz ao pobre


Eram os sonhos perdidos

de todos os que morreram

sendo mesmo ofendidos

jamais a dignidade perderam


Miro Couto

25-04-2024

Dos cravos aos cravas

 Dos cravos aos cravas


Tantas lutas nós travamos

Para haver paz, educação, saúde e pão

Tanta porrada levamos

por fazer contestação


tanto martírio sofremos

das bocas amordaçadas

Tantas vezes combatemos

levando tantas chicotadas


quantas vozes se ergueram

e que foram perseguidas

dentro de grades sofreram

as mais duras investidas


Por animais de forma humana

que torturaram sem piedade

Homens mulheres e jovens

Até de alguma tenra idade


Só porque queriam ver

Um Portugal a sorrir

Um País a prometer

ao povo um melhor porvir


E passados 50 anos

dessa grande revolução

de esperança nos ramos

dos cravos na nossa mão


Vivemos dias escuros

Voltamos à servidão

que faz moer os mais puros

os que ainda tem coração


e desse abril já distante

Que nos ofereceu felicidade

transformou-se num instante

num país sem piedade


Mas outra revolução virá

Com as armas nos alforges

que jamais permitirá

Dar poder aos nossos algozes


Miro Couto

25-04-2024

19 abril, 2024

Sem fitas

  Sem fitas

Adoro ouvir as tuas palavras bonitas
daquelas de dolência com ternura
como se fosse um campo de fitas
a baloiçar com a brisa de frescura
adoro esse chilrear de acasalamento
sempre que a primavera desponta
mas sabes, palavras leva-as o vento
e o que fazes para mim é o que conta.
19-04-2024
Miro Couto

11 março, 2024

Portugal

 Portugal


Deste-me um abril cheio de sonhos

agarrei-o e guardei-o no coração

ao fim de 48 anos ficam despojos

e voltamos aos tempos da escuridão


Fruto da vassalagem da canalha

que comanda a comunicaçao

que confunde, mente a baralha

a verdade,  com a sua opinião


fiquei com os cravos secos na mão

mas sem nunca perder a esperança

estou certo que outra revolução

devolverá o amor e a confiança


por mais que sequem os cravos

por mais que fuzilem a razão

nova primavera irá nascer 


do legado dos nossos avós

que nos entregaram na mão

e não mais irá perecer


Miro Couto 11-03-2024


27 fevereiro, 2024

Dolência

 Dolência

Na tua mão que estava fria
colei-a ao meu peito com fervor
do gesto de carinho que pedia
fez nascer em mim um grande amor
dos tempos que passamos mais felizes
recordo aqueles dias de ternura
dois corpos entrelaçados sem juizes
que pudessem provocar a desventura
mas amargura que vive noutros peitos
em corações perdidos sem amor
sem entenderem do que somos feitos
proíbem a paixão, semeiam dor
resiste essa dolência amargurada
no peito de quem tanto se doou
mas quando uma pessoa foi amada
ficará sempre guardada em quem amou
(em modo de fado)
Miro Couto
27-02-2024