21 maio, 2024

Pensa por ti

 Pensa por ti


E neste mundo pesado

cheio de fome e de fado

sem esperança de vida


pões o destino nas mãos

de crápulas que se dizem cristãos

mas que são escória vendida


agarra com força no peito

o amor de que foste feito

e defende teu irmão


vais ver o retorno perfeito

que tão bom ficas sem jeito

e não tens de dar sermão


abraça a vida com força

e que ninguém faça troça

da felicidade que carregas


já basta tanto sofrimento

do egoísmo e tormento

dos senhores que fazem guerras


e de mãos dadas aos outros

porque todos juntos somos poucos

para vencer esta ignomia


cantemos de vozes altivas

e assim mais tu cativas

a vinda de um melhor dia


Miro Couto 

21-05-2024


03 maio, 2024

Não são palavras

 Não são palavras

Sentimentos debelados
indefinidos pelas palavras
deveriam ser cantados
em estrofes bem lavradas
mas os poetas que fingem
e dão luz à dor cativa
escrevem poemas que tingem
mudam o negro em cor viva
são palavras fotogénicas
imprimem as emoções
criam ilusões cénicas
amansam os corações
emergem do ventre rasgado
do cérebro que as faz parir
saem sempre lado a lado
seja a chorar ou a rir
Miro Couto
03-05-2024
PS: A última estrofe resultou de uma resposta a um poema da Carla Sofia

Cravo vermelho

 Cravo vermelho


Não era só um cravo

na ponta da espingarda

eram os sonhos de novo

por tanta gente almejada


Era o vermelho refletido

dos que caíram no chão

cobertos do sangue perdido

de quem possuía a razão


era o chicote domado

que torturava a nação

o jornal amordaçado

de quem tinha opinião


Eram o sonhos utópicos

duma sociedade mais nobre

era carregar os tópicos

de poder dar voz ao pobre


Eram os sonhos perdidos

de todos os que morreram

sendo mesmo ofendidos

jamais a dignidade perderam


Miro Couto

25-04-2024

Dos cravos aos cravas

 Dos cravos aos cravas


Tantas lutas nós travamos

Para haver paz, educação, saúde e pão

Tanta porrada levamos

por fazer contestação


tanto martírio sofremos

das bocas amordaçadas

Tantas vezes combatemos

levando tantas chicotadas


quantas vozes se ergueram

e que foram perseguidas

dentro de grades sofreram

as mais duras investidas


Por animais de forma humana

que torturaram sem piedade

Homens mulheres e jovens

Até de alguma tenra idade


Só porque queriam ver

Um Portugal a sorrir

Um País a prometer

ao povo um melhor porvir


E passados 50 anos

dessa grande revolução

de esperança nos ramos

dos cravos na nossa mão


Vivemos dias escuros

Voltamos à servidão

que faz moer os mais puros

os que ainda tem coração


e desse abril já distante

Que nos ofereceu felicidade

transformou-se num instante

num país sem piedade


Mas outra revolução virá

Com as armas nos alforges

que jamais permitirá

Dar poder aos nossos algozes


Miro Couto

25-04-2024