09 agosto, 2008

Uma história com mais de 30 anos.




Uma certa noite, em que eu era militante de esquerda, e quando foi o confronto militar entre o CICAP E O RASP, na Serra do Pilar em Gaia, e depois de uma guerra entre o batalhão de cavalaria 5, contra a artilharia da serra do pilar, depois de andarmos a porrada entre manifestações, chegou a noite, e alguns vigilantes la ficaram a pernoitar, e alguns como eu, procuraram entradas de prédios para conseguir proteger-nos do frio da noite.
Entro eu num prédio onde já se encontravam outros jovens e outras jovens.
Sento-me num dos degraus da escadaria, e dois degraus acima de mim estava uma moça que se chamava Luzia, com quem troquei algumas palavras, e que me disse que estava numa república de estudantes onde eu já tinha estado também, que era na rua faria Guimarães no porto, a república dos lisos.
Palavra puxa palavra, e, ela diz-me que estava com frio, ao que eu lhe sugeri que se ela quisesse aquecer, se poderia sentar no meu colo e eu com o calor do meu corpo a aqueceria para ela conseguir dormir.
Ela reticente aceitou porque estava a tiritar de frio, la adormeceu no meu colo, agarrada a mim, e, pelo raiar da luz do sol, lá acordou, deu-me um beijo, correu-lhe uma lágrima pelo olho, e disse-me:
Miro, nunca ninguém me tinha dado colo sem interesse como tu me deste, nunca ninguém me protegeu como tu me protegeste, e foi tomar o pequeno almoço, que eu também fui mas sem ser com ela.
Voltamos ao nosso lugar de luta, de vigilância, e quando aquilo passou, voltei a casa, e nunca mais vi a Luzia, apenas guardo a imagem dela e o seu nome.
Onde queres que estejas Luzia, deixo-te aqui um beijo, esperando que estejas feliz.

Miro, recordando momentos de vida e da minha juventude.

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