Nao tenho tempo

Já não tenho tempo para indagações pueris
do que permanece nos canhenhos mais rurais
nem para ilusões marcadamente febris
sobre o que torna os humanos imortais

Não posso, não quero, nem anseio, porque sofro
com argumentos cutilantes de investidas do ego
à razão do que é demasiado Urgente por cobro
à ignorância latente que perdura no que é cego

Não aguento mais ver a queda que se anuncia feroz
das almas que comigo e em mim navegam
e sem paternalismos nem nesta onda tão veloz
anseio proteger todos os que muito amam

Porque me demito da companhia
dos que vejo que poderão sofrer
Não porque seja minha teimosia
mas apenas antevisão do que me dão ver.

E é URGENTE acreditem,
URGE o acordar temperano
da apatia em que persistem
para um conhecimento sano

e sem loucura ou mania
de querer saber mais que alguém
Digo-vos com simpatia
o que sofro como ninguém
por ver como a luz do dia
A miséria que vem além.

E triste por não poder
arrebatar o atraso moral
dos que teimam em perder
este comboio final.

Miro Couto.