Uma beleza

Ontem conheci uma senhora com 87 anos com o nome da minha mãe que era amiga do meu poeta preferido António Aleixo. É espantoso como as vezes nos cruzamos com pessoas que nos avivam a memória das belas quadras que um poeta popular ditava, com um sentimento e uma audácia invulgares, para não dizer da mordacidade com que deixava as letras.
Fiquei simplesmente deslumbrado com tal facto. Da conversa que tive com essa linda senhora, ficou uma imagem de paz e de luz que ainda guardo em mim. O poema que vou transcrever desse grande poeta popular é dedicado a essa grande senhora.


Morte

Tu ainda não reparaste
Que o bom, num perfeito grau
Sem ter o mau por contraste,
não seria bom nem mau?

O que era a noite sem dia?
E a luz sem escuridão?
O contraste é a razão
Porque a gente os avalia.

Tende por esta medida
Tudo para o mesmo fim
Até tu, a propria vida,
Não eras nada sem mim.

Antonio Aleixo (Poeta algarvio, cauteleiro, que nao sabia escrever)

É a beleza dos sentimentos, e a nobreza do conhecimento, que almas iluminadas podem dizer coisas belas que não podiam aprender, porque estão intrinsecas na sua alma.

Beijos a quem é de beijos.

Miro